sábado, 29 de setembro de 2018

CONHEÇA UM POUCO MAIS >> Candidato a Deputado Federal pelo PT/RN, Caramuru Paiva: “A agricultura familiar é importante para o país”




O dicionário explica que Caramuru é uma espécie moréia, um peixe de mordida violenta. E também é o nome que se dava aos europeus antigamente. No Rio Grande do Norte é diferente. Caramuru é homem sertanejo, tem alma de sertanejo e que promete fazer um mandato no Congresso Nacional voltado para o interior do Estado, destacando o papel da agricultura familiar para o desenvolvimento do país. Esse é Caramuru Paiva, natural de Caraúbas, 43 anos e engenheiro agrônomo. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, Caramuru potiguar participou dos governos Lula, Dilma e tem larga experiência em projetos voltados para o desenvolvimento regional e agricultura familiar.
Candidato à deputado federal pelo PT, Caramuru Paiva é o segundo entrevistado da série “Me representa”, na qual a agência Saiba Mais apresenta aos leitores candidatos ao parlamento estadual e federal de 2018 do campo progressista que não tem espaço na mídia.
Caramuru conta que fará um mandato voltado para o campo e a cidade, voltado para a interiorização regional do desenvolvimento.
Agência Saiba Mais: Quando começa seu interesse pela política ? E por quê ?
Caramuru Paiva: Costumo dizer que me sensibilizei pela transformação do mundo para melhor a partir da minha própria vivência. Foi a minha condição de sertanejo, filho de família separada e criado pela mãe que me fez perceber como uma grande parcela da sociedade vivia à margem de acessar bens básicos, coisas simples. Um passeio no parque era um item proibido, ter brinquedo era coisa que uma criança da minha condição não podia ter. E aquilo me angustiava porque ficava latejando uma pergunta: por quê uns podem e outros não ? E olhar para essas injustiças foi me conduzindo a me posicionar no campo da esquerda. E depois descobri um movimento organizado que se denominava do campo da esquerda na política, que lutava para que as injustiças fossem superadas e apontava que essas injustiças eram construções humanas históricas. Aos 14 anos eu fui vice e depois presidente do grêmio na escola. E tanto o movimento estudantil como depois o movimento cultural de teatro de rua me levaram a ampliar essa consciência crítica e a defender a Justiça. Depois o PT veio com a campanha encantadora do presidente lula em 1989 e aí percebi que era possível fazer política mesmo sendo do andar de baixo, do lugar onde as pessoas viviam. Era possível desejar, lutar e conseguir fazer um torneiro mecânico, saindo de dentro do semiárido nordestino, virar um presidente da República. E daí em diante segui as fileiras do Partido dos Trabalhadores.
Qual segmento da sociedade você quer representar na Câmara Federal ?
Tenho atuado profissionalmente e militado politicamente, sou mestrando em desenvolvimento territorial do semiárido na UERN em torno de uma perspectiva renovada acerca do desenvolvimento equilibrado entre as regiões e microrregiões, no caso dos territórios. Participei do governo do presidente Lula, do projeto Dom Helder Câmara, e depois na condição de delegado regional de agricultura acompanhei as dinâmicas do plano nacional de desenvolvimento territorial que estabelecia um conjunto de ações para a dinamização econômica e o desenvolvimento social de mais de 270 territórios em todo o Brasil. Então a tese que vou defender é de que o Brasil, para se desenvolver, passa por repensar seu modelo que, no ultimo século, foi a da estratégia do Estado ou da cidade serem a locomotiva que puxaria o resto do país. Esse modelo deu o que tinha que dar. O outro modelo é criar polos dinâmicos, que evoluiu no governo do presidente Lula. Quero retomar o plano de desenvolvimento territorial sustentável que tramita na Câmara Federal. Minha principal bandeira é uma estratégia de desenvolvimento que passar por isso.
E para o Rio Grande do Norte ?
No Rio Grande do Norte esse projeto passa por uma interiorização do desenvolvimento, trazendo distribuição dos recursos dos grandes centros da capital para distensionar o desequilíbrio entre a capital e o interior do Estado. Trazendo pra dentro mais saúde, educação, segurança, mais oportunidades de desenvolvimento econômico dos potenciais locais: turismo, irrigação, nosso potencial de produção de energias alternativas, agricultura agroecológica, empreendimentos comerciais e iniciativas dos centros comerciais. A interiorização do desenvolvimento será meu carro-chefe. Minha militância principal se refere à agricultura familiar e a transição agroecológica da produção agrícola e da criação de animais no Brasil. Um mercado do ponto de vista econômico muito interessante. Na dimensão social e ambiental, além de inovador, é viável e longevo para o país.
Você participou da equipe do Ministério do Desenvolvimento Agrário do governo Dilma. O que você destacaria dessa experiência ?
Foi gratificante representar o MDA no RN. Pudemos, mesmo na adversidade que o Brasil vivia naquele momento, ter resultados bastante promissores. A universalização do seguro da produção do garantia safra, a ampliação do programa compra direta, tanto no Estado como no município, avançando em outras instituições do Governo Federal como os IFs; ampliação dos editais de assistência técnica, com as novidades específicas para mulheres, pioneiras no campo da agroecologia e para famílias de um modo geral. Veio nesse mesmo período uma aceleração de estratégia de comercialização de produtos da agricultura familiar… inauguramos 21 feiras na região do agreste, no litoral sul. Retomamos o programa de territórios da cidadania, estimulando os colegiados a fazerem os planejamentos e as definições dos investimentos do Pronaf e infraestrutura, com resultados significativos. Avançamos no projeto de titulação de terras quilombolas, estabelecemos diálogo permanente com representações diferentes de trabalhadores, como MST, MTST, Fetarn, Fetraf, ambiente permanente de pensar soluções… esse período do governo Dilma tem um legado de contribuição.
Caramuru defende mais representatividade da classe trabalhadora no Congresso
Uma das bancadas mais fortes da Câmara Federal é a bancada do agronegócio. Há pautas tramitando que representam grandes retrocessos, como a conhecida Lei do Veneno, por exemplo. Como seu mandato vai atuar nessa área ?
A bancada do agronegócio tem 235 deputados, representa um segmento empresarial que investe no campo, sobretudo com aporte financeiro de grandes corporações multinacionais. Cinco dessas corporações levam 70% do lucro da safra do agronegócio brasileiro, ou seja, mais de 2/3 do que é lucro produzido no nosso país. É um modelo de produção que foca e tem escala a partir de máquinas, veneno e sementes transgênicas. Pesquisas comprovam o comportamento nocivo de parte dessa produção sobre a saúde da população. Tenho acumulado estudo, experiência e vivência no sentido de construir e defender um modelo de produção limpa e sustentável, capaz de aumentar a população que gera retorno econômico. E o mundo está cada vez mais interessado em comprar alimentos saudáveis, então há um mercado consumidor crescente. E nesse modelo faremos um importante debate do ponto de vista da saúde e do meio ambiente. A lei 6299, a PL do veneno, escancara a ampliação do uso do veneno e simplifica o processo de verificação. O projeto propõe a troca o nome de “agrotóxico” por “defensivo fitossanitário”, mas o efeito permanece nocivo. Então eu pretendo fazer uma debate na Câmara e envolver setores da sociedade, como a Anvisa, Ministério do Meio Ambiente, dialogar com o setor da produção rural, com o segmento que produz. Tem uma alternativa que reduz gradativamente esse uso de agrotóxicos, discutimos isso num projeto passo a passo, que é o programa de redução de uso de agrotóxico. A outra coisa é o plano de Agroecologia e produção orgânica. Pretendo retomar e fazer um dialogo franco com a sociedade.
A maioria dos deputados são empresários e atendem a interesses do segmento que representam. Como inserir a pauta dos trabalhadores na Câmara ? Como agrônomo, que projetos você pretende aprovar em benefício dos agricultores ?
Essa é uma condição do nosso projeto. Estou me colocando para recompor o desequilíbrio que o atual Congresso criou, ampliando demais os representantes do alto empresariado e diminuindo a representação das casas mais populares do campo e da cidade. Expectativa não só comigo, mas vamos equilibrar essa relação com outros nomes também, para que a representação dos trabalhadores seja ampliada. O Congresso anterior serviu mais ao país. E nesse aspecto quero fazer um debate sobre a revogação da reforma trabalhista, da PEC 95 e defender os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras de uma modo geral. Vamos pautar o crescimento real do salario mínimo, a defesa da aposentadoria para o homem e a mulher do campo. Sobre a agricultura, basta dizer que a economia e o desenvolvimento nacional de um país que tem 8 milhões de quilômetros quadrados e 20 milhões de agricultores familiares… temos um país com um potencial produtivo muito grande. A economia depende da agricultura. Quer um exemplo ? A Inflação teve de subir quando a produção do tomate e do feijão caiu. Há um rebatimento, inclusive sobre a macroeconomia. E um país que se quer desenvolvido, que deseja sair da lista da fome e permanecer fora dela, é preciso que tenha alguém que produza alimentos. A França, a Europa… dá subsídios muito maiores para as pessoas viverem no campo e alimentar a população daquele país.
Na região Nordeste, uma grande demanda é a convivência com a seca. Como seu mandato pode contribuir para que políticas públicas voltadas para essa área virem leis e reduzam os danos de milhares de agricultores brasileiros, em especial os que sobrevivem no Nordeste ?
Não só o Nordeste brasileiro. Tem um projeto do Wellington Dias (governador do Piauí), um plano de convivência com semiárido, estudos de Celso Furtado… tem o conjunto de alternativas que vem sendo experimentadas, articulações em rede, vivências… o Rio Grande do Norte, em especial, está 90% dentro do semiáridos. Somos um dos raros semiáridos do mundo que temos encontro com o mar. Isso é um potencial incrível. Aqui chove mais do que em outros semiáridos, dispõe de muita energia. Nosso mel de marmeleira é um dos melhores do mundo, nosso potencial do turismo e da cultura é reconhecido, de modo que a políticas para o semiárido tem experiências concretas. Tenho estudado a questão da água, sou engenheiro agrônomo por formação. Contribuí com a senadora Fátima Bezerra na atuação que ela teve sobre conclusão de integração da transposição do rio São Francisco. E contribui no programa de 1 milhão de cisternas. Mostramos com a construção de cisternas o quanto era simples levar a água de beber para as pessoas. O desafio é agua do consumo doméstico e da produção. Nesse sentido tem combinação de tecnologias sociais, adutoras, sistemas de integração de adutoras, barragens sucessivas, subterrâneas, isso combinado com a chegada das águas do rio São Francisco no Rio Grande do Norte… é possível elevar a segurança hídrica. É preciso, no semiárido, concretizar a estratégia de armazenar água quando tem, para garantir que no período que não tem ela passe de forma muito mais suave. E com água e alimento as pessoas têm como viver e produzir riquezas. O RN tem obrigação de construir um debate sobre a convivência e sobretudo um plano de segurança hídrica para o Estado, conforme já consta no programa de governo da nossa futura governadora Fátima Bezerra.
Engenheiro agrônomo, Caramuru diz que qualquer país avançado discute hoje a produção de alimentos sem agrotóxicos
Seu mandato será voltado para o campo ou para a cidade ? De que forma ?
As coisas do campo e da cidade estão muito interligadas. O cidadão que come pela manhã, ao meio-dia… de onde vem essa produção ? O campo também é conforto, um local em contato com a natureza. Qualquer país do mundo que avançou teve que realizar a reforma agrária. Só o MST tem cadastrado 120 mil famílias no país. Farei um mandato que cuidará do campo e cidade. Esse será o perfil do nosso mandato.
A agricultura família ainda é vista com preconceito, especialmente pelos barões do agronegócio. Como incluir os trabalhadores na pauta de avanços do país ?
Esse preconceito é fruto da ignorância. Se quiser pensar algo moderno que coloque o Brasil na ponta do planeta é só dizer que o Brasil tem condições e experiência de produzir alimentos agroecológicos, o mundo inteiro está a fim disso. Cada vez mais as pessoas se interessam em comer comida sem veneno, saudável, comida de verdade. E a agricultura familiar tem o perfil ideal para oferecer isso. A agroecologia necessita que as pessoas que produzem tenham contato com as plantas. E naquele plantio em larga escala jamais haverá viabilidade de se produzir nesse formato, que defenda o meio ambiente e garanta saúde para a população. Acho fácil discutir com a sociedade brasileira, a partir da Câmara Federal, o significativo papel da agricultura familiar no cenário de desenvolvimento do país.
Quem te inspira ?
Eu sou uma pessoa do sertão, que teve infância tomando banho de rio, fui no roçado comer melancia, que pescava, rotina do homem e da mulher do sertão me inspira muito. E neste universo tem pessoas marcantes: os cantadores, a inteligência do improviso, os aboios dos cantadores, Luiz Gonzaga, Xangai, Elomar, Vital Farias, artistas daqui como Caçula, Benevides, Dorgival Dantas, escritores do nosso cenário, como Guimarães, que escrevia sobre o sertão mineiro. Outra referência é Ariano Suassuna. É de uma base fundante do que pratico. Hoje olho com muita admiração o prefeito de Currais Novos Odon Jr. que lidera com a tranquilidade que parece um personagem de Euclides da Cunha. Me inspiro no povo sertanejo. E no campo político admiro muito aquela menina que nasceu em Nova Palmeira, que nasceu do lado de cá, que não tinha nem doutor e vai ser nossa governadora, Fátima Bezerra.
A Ong Repórter Brasil criou o Ruralômetro, que mede o grau de afinidade de deputados com a pauta do agronegócio. Alguns potiguares foram destaque, como Fábio Faria e Beto Rosado. Que balanço você faz da bancada federal na Câmara Federal ?
Não percebo quase ninguém falar de agriculta na bancada potiguar. Nem a agricultura familiar nem da mais empresarial. Como o Congresso deve espelhar a sociedade, o segmento mais oligárquico deve ter sua participação por lá. O que não acho correto é a representação da classe trabalhadora, dos segmentos populares. Somos quase meio milhão de potiguares na agricultura familiar. O interior do RN representa mais de 80% daqueles municípios que tem menos de 40 mil habitantes. Sou do outro campo da política que não é esse daí, dos que não representam a sociedade.
Fale um pouco sobre você. Quem é Francisco Caramuru Paiva, idade, suas origens, formação, onde trabalhou e o que faz hoje.
Sou Caramuru Paiva, nasci em 19 de outubro 1974, passei minha primeira infância na zona rural, o olhar pra chuva, o banho de chuva, aquele cinza bonito da espera da chuva, tudo aquilo está dentro de mim. Trabalhei com 10 anos vendendo dindin, com 12 fui frentista, com 14 fui aprendiz no Banco do Brasil, com 15 iniciei o movimento estudantil e grupo de teatro de rua… depois, já na universidade como engenheiro agrônomo, contribuí com a experiência de organização agrícola, com o fortalecimento de grupos de mulheres, juventude, alternativas com caprinocultura leiteira, como acumular água e guardar para o período que não tem. E pude compor a equipe do presidente do Lula, no projeto Dom Helder Câmara, e depois representar meu país no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Fui um dos grãozinhos, junto com milhares nordestinos, que construíram a fundação da articulação do semiárido, trabalhei com Ongs voltadas para transição agroecológica. Acredito que acrescento no cenário da política como um novo nome para a esquerda. Farei um mandato de esquerda voltado para o interior do Estado. E isso fará muito bem para a corrente popular de esquerda mais para dentro do Rio Grande do Norte. Sou uma pessoa que sonha e vive para tornar a sociedade um mundo melhor

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