A pesquisa do brasileiro acaba de ser publicada na “Food Chemistry”. No trabalho — “O queijo de coalho do Nordeste do Brasil pode ser utilizado como alimento funcional?” – ele mostra que além do sabor agradável, o queijo nordestino tem propriedades não só nutritivas como bioativas.
O queijo de coalho é muito disseminado no Nordeste, mas em Pernambuco há apenas 200 queijarias registradas. Apesar de muito popular, suas propriedades funcionais nunca haviam sido descritas. Como o produto encontra-se ‘a véspera de obter certificação de indicação geográfica, as suas qualidades chamaram atenção dos pesquisadores da UFPE.
Normalmente associada ‘a vitamina C e aos flavonóides – substâncias encontradas em uvas, vinhos, chá verde, laranja – a ação anti-oxidante também pode ser atribuída ao queijo tão solicitado pelo homem da caatinga, hoje muito presente nos mercados populares da capital.
- O queijo de coalho é rico em peptídeos bioativos, com propriedades antioxidantes (combatem os radicais livres), antimicrobianas e carreadoras de zinco, mineral que tem função de ativar enzimas que multiplicam as células de defesa, explicou o pesquisador.
A atividade antimicrobiana e a antioxidante devem-se a peptídeos variados, que são obtidos na hidrólise (quebra) da caseína (proteína) do leite utilizado na fabricação do queijo. Peptídeos são compostos formados pela combinação de aminoácidos. A investigação limitou-se ao queijo do tipo B, produzido com leite cru (não pasteurizado), e que é caracterizado como artesanal.
- Ele é um queijo magro, com baixo teor de gordura, tem alta ou média umidade, e textura e sabor muito particulares. Os estudos mostraram, também, que apesar da fabricação artesanal, o índice de coliformes está no limite permitido, o que implica em dizer que eles são produzidos nos padrões de qualidade sanitária exigidos, afirmou o professor.
Ele examinou exaustivamente doze amostras, recolhidas em seis municípios da região agreste e do sertão, todas certificados pela Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro). As amostras foram coletadas em queijarias de Capoeiras, Correntes, São Bento do Una, Cachoeirinha e Venturosa, todos na região agreste. E ainda em Arcoverde, que fica no sertão.
A pesquisa desenvolveu-se entre os anos de 2008 e 2012, sob a orientação dos professores José Luiz de Lima Filho (Diretor do Lika) e de Maria Taciana Cavalcanti Vieira Soares (da Pós Graduação da Universidade Federal Rural de Pernambuco). O pesquisador constatou, ainda, que por ter um número muito elevado de peptídeos, o queijo de coalho pode ter outras propriedades bioativas, como a anti-hipertensiva.
- Podemos afirmar que o queijo de coalho produzido no semi-árido de Pernambuco tem expressiva importância na melhoria da saúde dos consumidores, desde que sejam cumpridas todas as etapas tecnológicas e sanitárias para garantir um alimento seguro, disse. E recomendou:
- Devemos valorizar cada vez mais esses alimentos que são marginalizados por serem preparados em processos manuais e, na maioria das vezes, por pessoas sem conhecimentos técnicos de higiene. Para o pesquisador, a qualidade funcional do queijo de coalho já está comprovada. O que é necessário, agora, é padronizar a produção para reduzir a grande variação da qualidade existente entre os produtores pernambucanos, disse. Em Pernambuco, o queijo de coalho não se limita ‘as 200 produtoras registradas. Calcula-se que há mil unidades que fabricam o produto informalmente, de forma clandestina.
Do Jornal O Globo
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