quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A esperança nos olhos dos/as sertanejos/as depois da chuvarada

fonte da ASA

Seu Valmir, junto com a esposa, planejou e não teve dificuldades durante a seca. | Foto: Aparecida Amado
Em Simão Dias (SE), semiárido sergipano, a história não é diferente em relação ao tempo prolongado de estiagem. São várias dificuldades. Mas vamos iniciar esse texto lembrando um trecho de uma música que embala a ASA - Articulação Semiárido Brasileiro, “Água de Chuva”, de Roberto Malvezzi, conhecido como Gogó: “Colher a água, reter a água, guardar a água quando a chuva cai do céu, guardar em casa também no chão e ter a água se vier a precisão”.

Com as palavras do nosso querido poeta Gogó e os depoimentos do povo do Semiárido, damos conta da importância daquela “cisterninha de placa” no pé da casa, com água limpa e fresquinha para beber e daquela outra que comporta 52 mil litros para poder aguar a horta e criar os bichos.

Seu Valmir e Dona Nalvinha são agricultores e moram na comunidade Jacaré, no município de Simão Dias, do qual falei no início da prosa. ”Já fazia dois anos que [não] chovia por aqui, quinta feira [22] eu disse ‘vai chover’, a gente sente, então foi dito e certo, caiu uma chuva de dar prazer, eu não tenho nem palavras para falar da minha alegria”, foi assim que Seu Valmir recebeu a equipe do CDJBC na sua casa, na ultima quarta feira, dia 23 de janeiro, radiante com a trovoada que havia caído no domingo (20).

A satisfação pela chegada da chuva não estava presente somente nas palavras e no olhar daquela família, estava presente também no pedaço de terra já arado para plantação das hortaliças, bem próxima a cisterna-calçadão, ela estava presente também no comportamento das cabras que Seu Valmir cria com tanto zelo mesmo no período de estiagem.

“Não comprei água em momento nenhum, só tive que optar ou a horta ou as cabras, então fiquei cuidando das cabras esse tempo todo de estiagem com a água da cisterna grande. O negócio é economizar. Deus me livre de eu usar a água da cisterna para jogar no banheiro, a gente precisa reutilizar a água", destacou Seu Valmir.

Das cabras que Seu Valmir nos fala com tanto orgulho vêm o leite e o queijo que contribui bastante com a alimentação da sua família. A horta não foi possível permanecer, mas os animais de pequeno porte deram sustentabilidade, pois algumas galinhas caipiras também ciscavam no terreiro comemorando a chuvarada.

“A gente pode não ter muita coisa agora para mostrar, mas pode ter certeza, para nós não houve sofrimento, houve cautela, pois quem tem essas bênçãos que são essas cisternas, para nós agricultores, é ter quase tudo”, refletiu Seu Valmir.

Que alegria é ver em meio ao “tapete marrom”, como ele mesmo nos disse quando se referiu à seca, uma família com tranquilidade podendo, depois de uma chuva forte, fazer planos para o futuro.

“Já arei esse pedacinho aqui, agora vou plantar minhas hortaliças, pois minha cisterna está para mais do meio, já estava com saudade de comer meus alimentos sem veneno. E tem uma coisa que não posso esquecer, aprendi muita coisa nos intercâmbios que fui, pois se vocês têm grau acadêmico, a gente tem faculdade da vida”, salientou Seu Valmir.

E é com esse sentimento de que as possibilidades existem para uma boa convivência com o Semiárido e elas são comprovadas por vários/as agricultores/as, que a gente termina com mais um trecho da linda musica que nos trás uma reflexão sobre a fundamental importância da cisterna de placa de 16 mil litros para o povo do sertão:

“No pé da casa você faz sua cisterna
E guarda a água que o céu lhe enviou
É dom de Deus, é água limpa, é coisa linda
Todo idoso, o menino e a menina
Podem beber que é água pura e cristalina.”

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