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Para o engenheiro agrônomo e coordenador do Irpaa, Haroldo Schistek, as plantas nativas da Caatinga são adaptadas às características climáticas da região, de chuvas irregulares e alto índice de evaporação. Nesse contexto, ele acrescenta que um dos problemas no Semiárido é o cultivo de plantas de outras regiões, que não possuem o poder de captação e armazenamento de água, além de serem menos nutritivas para a alimentação animal. “No mês de setembro, com tudo seco e o céu azul, o umbuzeiro está cheio de flor. Então o umbuzeiro aprendeu que a seca não é nenhum problema, é um tempo de utilizar a água que ficou armazenada. Quando há chuva, ele acorda para se reproduzir. Com um exemplo desses, por que os seres humanos deveriam ficar tão preocupados com a estiagem?”, indaga Moacir dos Santos, agricultor e coordenador do Eixo de Produção do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), uma organização da sociedade civil que atua no sertão da Bahia e faz parte da ASA. Longe de Brasília, onde parlamentares discutem a possibilidade do tardio reconhecimento da Caatinga como patrimônio do país, Alcides Nascimento, é um daqueles agricultores que aprende com a natureza a partir da observação do comportamento das plantas da Caatinga. Seu Alcides mora com a esposa e três filhos na comunidade Ouricuri, no município baiano de Uauá, e alega que não está passando por um momento de seca (fenômeno social que produz fome e sede) e sim de estiagem (fenômeno natural). Mesmo com a falta prolongada de chuvas, ele afirma que está conseguindo passar bem esse momento porque cuida da vegetação nativa da sua propriedade. “Deus criou o período de estiagem para o descanso do agricultor, quando chove, nós devemos nos prevenir e estocar tudo que podemos para nós e os animais. Temos que calcular o que vamos precisar e para isso temos que ter as áreas soltas de Caatinga”, ensina Alcides. Já a agricultora Maria Viana, do sítio Bezerros, no município de Ouricuri, em Pernambuco, prioriza os animais catingueiros às próprias atividades rurais. Ao lembrar das centenas de aves que comeram o plantio dela anos atrás, Maria conta que não seguiu os conselhos de outras pessoas para matar as aves: “Já que elas não tinham o que comer, iam comer aqui mesmo.” Após anos de preservação, a agricultora colhe os frutos de uma área produtiva povoada de animais, antes ameaçados pela caça. No interior do Ceará, no município de Xoró, na comunidade de Riacho do Meio, o agricultor João Félix atesta que a preservação da Caatinga nativa evita problemas no trabalho realizado nos quintais e no roçado. Com quase uma década de práticas agroecológicas, João apreendeu os processos sistêmicos do ambiente. “Os animais formam uma cadeia, se eu tiro um, prejudico os outros. Se eu mato um, estou tirando o alimento de outro”. A teoria de João Felix tem base empírica, vivida na própria localidade. “Quando a gente chegou aqui, tinha uma perseguição muito grande do carcará com os animais de terreiro. Então a gente percebeu que hoje, depois dessa conservação, apareceu muito mocó, muito cumaré e outros animais. Então o carcará não vem mais aqui”, atesta o agricultor agroecológico. Recaatingamento – O Irpaa está trabalhando com o termo e conceito do recaatingamento para designar a recuperação de áreas degradadas do bioma. De acordo com Moacir dos Santos a expressão é mais adequada para a região porque está mais próxima da identidade local e evita concepções indesejadas. “Ao falar de reflorestamento, muita gente lembra da Amazônia ou da Mata Atlântica, além disso, tem gente que pensa logo na plantação de eucaliptos”, declara Moacir. |
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Caatinga ensina agricultores e agricultoras familiares a conviver com o Semiárido
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