quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Luta de mulheres no campo

Mariana Reis* - ASACom

Marcha das Margaridas / Foto: Agência Brasil
O 25 de novembro é marcado como o Dia Internacional de Não-Violência Contra as Mulheres. Sinaliza também o início da campanha de 16 dias de ativismo pelo fim da violência de gênero, no qual o movimento feminista realiza debates e desenvolve ações diretamente ligadas ao enfrentamento, como audiências públicas, vigílias e campanhas nas capitais, nas regiões metropolitanas e no interior do País.

No Brasil, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), ocorreram mais de 50 mil homicídios de mulheres – chamados feminicídios – entre os anos de 2001 e 2011. Ainda de acordo com o IPEA, grande parte dessas mortes deve-se à violência doméstica e muitas morrem pelas mãos de seus companheiros e ex-companheiros.

Para o movimento de mulheres, esse período dos 16 dias de ativismo – que segue até o dia 10 de dezembro – é tempo não só de mobilização, mas também de relembrar todas aquelas que vêm, ao longo dos anos, colaborando para a equidade de gênero, lutando pela garantia dos direitos humanos, marcando um lugar nos movimentos sociais e servindo de inspiração para as novas gerações, no campo e na cidade.

Em relação às mulheres rurais, caso emblemático é o de Margarida Alves, agricultora e sindicalista da Paraíba cujo assassinato, ocorrido há 30 anos, segue impune. A história da liderança paraibana deu origem à Marcha das Margaridas, que desde o ano 2000 reúne movimentos sindicais e feministas de todos os estados brasileiros em Brasília, que vão às ruas pelo enfrentamento à violência no campo.

Três décadas após a morte de Margarida Alves, algumas bandeiras permanecem, outras se atualizam. Os direitos trabalhistas, defendidos à época, são alguns dos já consolidados, mas a batalha pelo direito à terra e à produção seguem firmes. Somam-se a isso questões como o direito a permanecer na terra – ameaçado pelos projetos de agronegócios – e a defesa pelos direitos das mulheres e contra a opressão de gênero, motivos pelos quais ainda é preciso se mobilizar. 

Conheça, a seguir, o perfil de algumas dessas lideranças de ontem e de hoje e suas contribuições para o movimento de mulheres. Elas representam tantas outras mulheres do Semiárido, especialmente da área rural, que enfrentam todos os dias as suas pequenas batalhas.

Nazaré Flor – Maria Nazaré de Sousa, agricultora assentada da reforma agrária de Itapipoca (CE). Liderança rural, atuava por justiça no campo. No Movimento de Mulheres, uniu arte e militância com poemas relativos à luta das mulheres e aos direitos humanos, publicados no livro “Canção e Poesia”. Nazaré foi, ainda, uma das fundadoras do MMTR-NE e da Rede de Mulheres Rurais da América Latina e do Caribe (LAC).
Margarida Alves – Trabalhadora rural e liderança sindical feminina de Alagoa Grande, na Paraíba. Defensora da reforma agrária, dos diretos humanos da classe trabalhadora rural, lutou contra o latifúndio e as injustiças sociais. Sua participação intensa nos movimentos e nas lutas populares motivou seu assassinato por latifundiários, em 1982, em frente à casa onde morava. O Movimento Sindical Rural lhe rende homenagem, especialmente através da Marcha das Margaridas, que reúne milhares de mulheres trabalhadoras rurais de todo o Brasil, em grande manifestação em Brasília.
Margarida Pinheiro / Arquivo Cetra
Margarida Pinheiro – Quando adolescente, militava na ação católica e, depois, abraçou a causa do movimento sindical e do movimento de mulheres. Fundadora do Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (CETRA), contribuiu na organização das mulheres trabalhadoras rurais do Ceará, na fundação do MMTR-NE e da Rede LAC, nas décadas de 1980 e 1990. Participou dos processos de discussão do novo sindicalismo, da fundação da Associação Brasileira de Ongs (ABONG) e da Articulação de Mulheres do Ceará, hoje Fórum Cearense de Mulheres.
 Romana Barros – Natural de Aracati (CE), em 1985, a jovem nasceu em 1985 e militou nos movimentos estudantil, feminista e de campo. Trabalhou no Centro Feminista 8 de Março, acompanhando os grupos de mulheres. Morreu em 2011, em decorrência de um acidente de carro. Sua memória hoje é lembrada pelos movimentos e seu nome inspirou uma das rotas da Caravana Agroecológica e Cultural do Apodi, que aconteceu no Rio Grande do Norte, no último mês de outubro, em defesa dos assentados da reforma agrária da região ameaçados pelo chamado “Projeto da Morte”. Saiba mais sobre a Caravana do Apodi aqui.

  Negra e sertaneja, como se autodefinia, a pernambucana foi educadora popular e uma referência feminista na América Latina e Caribe. Foi fundadora do Centro de Educação Comunitária Rural (Cecor) e uma das primeiras vozes a denunciar a situação das trabalhadoras rurais no Brasil, atuando na fundação do MMTR-NE e da Rede LAC.

Organizou diversos livros, como “Uma História muito Linda” e “Riacho Olho D’Água”, ambos de 2007, e inspirou a obra “Ser Mulher num Mundo de Homens”, de Cornélia Parisius. Foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2005 e ganhou o Prêmio Claudia, em 2002, e o Prêmio Trip, em 2009. Também foi uma das entrevistadas no documentário brasileiro “Eu Maior”, lançado em 2013. Neste mês, o Cecor lança sua obra póstuma “Lutando e lutando”, uma mensagem de esperança na luta contra o câncer. Clique aqui e saiba mais sobre o lançamento.

 
Vanete Almeida | Arquivo Cecor
Vanete Almeida –
Maria da Penha – A cearense Maria da Penha Maia Fernandes ficou paraplégica após receber um tiro do marido, enquanto dormia. Sua história é marcada pela luta, por mais de 20 anos, por justiça e contra a violência doméstica. Em 2006, o Brasil aprovou a Lei Nº 11.340/2006 como Lei Maria da Penha, em reconhecimento a sua trajetória – um marco para as mulheres do campo e da cidade.


*Com colaboração das organizações Cetra, MMTR–NE, Cecor e Casa da Mulher do Nordeste.

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