FOTO: César Ramos
Há 23 anos o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) construiu o Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS) para fazer o contraponto ao modelo hegemônico de desenvolvimento praticado no País que estimula a concentração de terra e renda, a exploração dos trabalhadores e trabalhadoras, a exclusão dos mais pobres, o desrespeito aos direitos, entre outras atitudes conservadoras e retrógradas.
Ao longo dos anos, a CONTAG, as Federações e Sindicatos foram consolidando o PADRSS a partir de suas ações formativas, de massa e práticas sindicais que geraram muitos frutos. Alguns deles são a conquista de diversas políticas públicas, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), a Habitação Rural, o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), o Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), entre outras.
Reforma Agrária, a busca por melhores condições de vida e trabalho no campo, a consciência política e de classe, o desenvolvimento sustentável, a organização dos sujeitos do campo, a geração de renda e tantos outros pontos foram defendidos pelo MSTTR, e muitos foram alcançados. Toda essa luta integra o que chamamos de eixos estruturantes do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário.
Depois de mais duas décadas de implementação e consolidação, no 12º Congresso Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (12º CNTTR), realizado em março de 2017, os delegados e delegadas entenderam que o PADRSS precisaria ser atualizado considerando as demandas dos sujeitos do campo, as novas ruralidades, as mudanças na conjuntura política e econômica brasileira, a dissociação sindical das categorias de agricultores e agricultoras familiares e dos assalariados e assalariadas rurais, entre outros motivos.
Para cumprir esta deliberação congressual, a CONTAG realizou nesta semana, de 24 a 26 de julho, em Brasília, a Oficina Nacional de Aprofundamento Temático e Metodológico para Atualização do PADRSS. A atividade contou com uma participação bem representativa e qualificada das Federações considerando a paridade e envolvendo também a juventude, a terceira idade, a maioria da Diretoria e Assessoria da CONTAG. Contou, também, com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para a sua realização. É importante destacar a colaboração do professor Sérgio Schneider, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do professor Mauro Del Grossi, da Universidade de Brasília (UnB) e da educadora popular e professora Socorro Silva, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que enriqueceram os(as) participantes de conhecimento e argumentos para os debates e propostas nos trabalhos em grupo e no plenário.
Para o presidente da CONTAG, Aristides Santos, a oficina cumpriu com o seu papel que era dar esse primeiro passo de discussão sobre a atualização do PADRSS. “Os professores, pesquisadores, técnicos, e o conjunto dos participantes que estiveram esses três dias conosco trouxeram elementos que resultaram em um material bastante rico para a preparação da nossa matriz pedagógica a ser utilizada nas cinco regionais e fecharmos no próximo ano esse processo de atualização do Projeto Alternativo.” Aristides também avalia que esse desafio de atualizar o projeto político do movimento sindical é tarefa complexa, porém instigante e fundamental. “Os desafios são grandes. Já acumulamos muitos resultados desde a construção do PADRSS. Mas, ao mesmo tempo, entendemos ser importante a atualização do projeto para dar conta da nova realidade da agricultura familiar e do campo brasileiro, além das mudanças ocorridas na conjuntura política e econômica brasileira”, completa.
A secretária de Mulheres da CONTAG, Mazé Morais, ressalta que um dos grandes desafios nesse processo é fazer com que o PADRSS seja internalizado no movimento sindical, junto à base e que seja compreendido e abraçado pela sociedade em geral. “O PADRSS precisa ser incorporado por todos nós do movimento sindical porque é o que dá o rumo para o nosso trabalho, para as nossas lutas. E ficamos bem satisfeitos porque percebemos que os(as) dirigentes das Federações saíram muito animados(as) de poder, cada vez mais, implementar e divulgar o nosso projeto para além do movimento sindical, de expandi-lo para que a sociedade em geral o conheça, que todos e todas se apaixonem por ele”, destaca. A secretária diz, ainda, que a Diretoria da CONTAG está com grande expectativa para a realização das cinco oficinas regionais, quando um dos principais objetivos será escutar a base a respeito do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário. “O nosso projeto é importante porque ele inclui essa diversidade de sujeitos que temos no campo – homens, mulheres, jovens, terceira idade. Então, ouvir a base é fundamental para atualizar o PADRSS”.
Os(as) participantes também avaliaram de forma positiva a realização da oficina e a decisão de o MSTTR priorizar a reflexão, a discussão e o trabalho de atualização do seu projeto político, o PADRSS.
Veja alguns depoimentos:
“É um momento importante. O PADRSS foi construído há mais de 20 anos. Temos perspectivas muito boas com a sua atualização, principalmente pelas propostas que vieram da oficina e pretendemos de fato tirar do papel o nosso projeto. Tudo o que produzimos no campo e as políticas públicas que conquistamos fazem parte deste projeto, mas precisamos dar mais visibilidade. A região Norte tem a certeza de que o PADRSS dá conta de responder ao golpe e ao momento difícil que estamos passando”.
Moisés Souza Santos – Pará
“Com esse processo de atualização do PADRSS, a sensação que tenho é que agora o movimento sindical será mais visto, que seremos vistos de outra forma perante a sociedade, como quem defende a categoria e os trabalhadores e trabalhadoras de uma forma geral”.
Alaíde Bagetto – Minas Gerais
“Dentro do movimento sindical é constante a evolução das coisas. Como o PADRSS foi criado há mais de 20 anos, se ele não for evoluindo junto com as políticas públicas, com os trabalhadores e trabalhadoras rurais, vai deixando de ter a nossa cara. Então, a oficina foi um momento de aprofundamento do projeto, buscando novas formas de implementação”.
Dalilla dos Santos Gonçalves – Goiás
“Para nós, do Sul, enquanto movimento sindical, o PADRSS agrega todos os sujeitos do campo e principalmente a organização dessas pessoas que lá vivem para que sejam melhores inseridas no mundo rural e de forma organizada. Então, estava mais do que na hora de fazer esse olhar para o nosso projeto depois de mais de vinte anos. É um momento de identificação das novas ruralidades, um desenvolvimento bem diferente ao que tínhamos décadas atrás, e atualizar o PADRSS é dizer para as pessoas que representamos que elas se sintam de fato representadas. Após a oficina nacional e as oficinas regionais é preciso ter um processo contínuo de monitoramento do nosso PADRSS”.
Diana Hahn Justo – Rio Grande do Sul
“Olhando pela região Nordeste, primeiro foi uma satisfação muito grande por também ter participado desde o início do PADRSS. E nesse momento agora, em outra conjuntura, podendo reavaliar, readaptar e nos inserir e inserir todos os sujeitos que fazem o movimento sindical em pé de igualdade, sendo homens e mulheres, juventude, terceira idade. Então, essa oficina foi um momento de aprendizado e a CONTAG foi muito inteligente ao abrir esse debate.”
Israel Crispim Ramos – Pernambuco
FONTE: Assessoria de Comunicação da CONTAG - Verônica Tozzi
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