FOTO: Barack Fernandes
Brasília será ponto de encontro, em novembro, de líderes sindicais, ambientalistas, camponeses e organizações de direitos humanos, para analisar a situação de violência vivida no meio rural em nossa região.
Na segunda-feira passada, 25 de julho, na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) do Brasil, foi decidido que nos dias 21 e 22 de novembro haverá o 2º Seminário Internacional sobre a Violência no Campo na América Latina.
O 1º Seminário Internacional sobre a Violência no Campo — Cenários, Vítimas e Agressores aconteceu também em Brasília, em 5 de março de 2013. Na Carta Aberta - Violência no Meio Rural: A favor da vida e da paz afirmava-se naquela oportunidade:
“Os grandes proprietários, o agronegócio e as transnacionais atuam como uma verdadeira rede transnacional do crime organizado, uma vez que esta violência, em sua ofensiva, é funcional para a privatização da natureza, para a concentração de terras e para a produção em grande escala.
A concentração da terra está diretamente relacionada com a concentração do poder.
Os poucos proprietários destas terras, que sempre gozaram de privilégios e que exerceram e exercem influência sobre os diferentes níveis governamentais, em nome de seus interesses pessoais, financeiros e políticos, exploram, escravizam, ameaçam, torturam e matam aquelas pessoas que ousam lutar contra os seus privilégios.
Entre as diversas soluções, Trabalho Digno, Reforma Agrária e Justa Distribuição de Renda representam instrumentos necessários e importantes para mitigar estes problemas.
O que falta é vontade política e um olhar mais humano para os pobres que vivem em situações e em regiões de risco, onde o que impera é a lei do que tem mais.
A omissão do governo, que procura responder pelos interesses dos poderosos, dos grandes latifundiários, é notória: só vale quem tem poder aquisitivo.
Esta ferocidade atroz do capitalismo, em seu formato neoliberal, está desencadeando uma violência aos direitos territoriais, onde os direitos humanos e coletivos não existem neste mundo, com a cumplicidade dos Estados. (...)”.
O terrorismo de um modelo para alguns poucos
E a impunidade devorando tudo
Passaram-se mais de três anos e a situação de violência aumentou.
Como mostram alguns lamentáveis acontecimentos: o assassinato de Berta Cáceres dirigente do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh) e Lesbia Yaneth Urquía, líder comunitária vinculada a essa organização, e o massacre de Curuguaty, no Paraguai, uma operação orquestrada onde morreram 17 pessoas e que serviu tanto para derrubar o presidente Fernando Lugo como para acabar com os protestos dos camponeses.
O Brasil, a Colômbia e o Peru aparecem entre os países mais perigosos para os ativistas ambientalistas em todo o planeta.
O Brasil, além disso, diariamente noticia assassinatos perpetrados por milícias particulares, fundamentalmente em regiões como Mato Grosso do Sul, onde os índices de concentração de terras em mãos de latifundiários são particularmente elevados.
Isto, sem mencionar o México, onde os assassinatos de ativistas sociais, de sindicalistas, de ambientalistas são inumeráveis.
Neste contexto, onde a região, além de tudo, perde soberania alimentar, a passos gigantescos, ocorrerá em alguns poucos meses o encontro de Brasília. É um contexto que exige respostas urgentes, por parte do movimento sindical, mas também por parte de toda a sociedade, para assim poderem enfrentar a ofensiva orquestrada das transnacionais, seus cúmplices locais e sua mão de obra armada.
FONTE: Gerardo Iglesias, com tradução de Luciana Gaffrée
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